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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Onde é que fica a praça?

Desculpem-me, mas eu não estou nada satisfeito com a democracia brasileira. A sensação que ela me traz com frequência é a de um angustiado aperto no peito, como naqueles pesadelos em que queremos falar e não conseguimos.

Preocupo-me com os destinos de minha terra, daí percebo que minhas preocupações vão morrer minhas, ou, quando muito, vão derivar em alguma sociologia de botequim, ou em alguma mensagem numa garrafa à espera que alguém a encontre, nesse mar de informação que é a internet.

Preocupo-me. Quer dizer então que o cidadão, eu, está fadado à irrelevância? Que meu poder de opinar se limita ao exercício de um poder de decisão diluído em 1parte para 110.000.000, que exercito a cada 2 anos? Essa é a parte que me cabe na democracia brasileira?

Uma dose tão homeopática de participação política é aguada demais para fazer com que eu me sinta cidadão. Culpo-me, será que fui eu que me alienei do processo político? Não estarei eu passivamente a reclamar um direito que só ativamente poderei conquistar?

Decido então filiar-me a um partido político, crente nos canais democráticos institucionais. Fico aguardando haver nos diretórios ao menos um desses murais de igreja, avisando de reuniões, discussões. Acho que procurei muito pouco, pois não vi essas oportunidades de discutir a agenda de meu partido, seus planos para minha cidade, meu estado, meu país.

Parece que saí daquela história, em que o sujeito deseja justiça, mas diante do tribunal há um guarda a impedir a entrada. Indagado, o guarda adverte que ele é só o primeiro, que outros, mais poderosos e terríveis estarão à espera em cada ante-sala do palácio.

Que farei? Atrevo-me a indagar: que faremos? Aguardaremos que, às portas de nossa morte, o guardião nos revele, cruelmente, que as portas estiveram sempre abertas, mas apenas aos que se atreveram a cruzá-las?

Ou, confrontaremos o primeiro guardião, arriscando-nos a ser desdenhados por seu poder, talvez feridos no corpo e na alma?

Será o caminho subornar o guarda? Talvez pedir a um conhecido que interceda por nós, nos salões secretos? Não! Recuo cheio de horror. Isso seria ser morto no primeiro combate, ou pior, suicidar-se, pois que cidadão restará se a chama que deveria animá-lo houver se apagado?

Então, por gentileza, se você encontrar essa garrafa, digo, esse texto, por favor, avise que eu procurei pouco, conte que eu estou mal informado, conte onde é que fica a praça. Ou, ao menos, mande avisar que você também está perdido, pois aí, então, já seremos dois.

Rodrigo Otávio Bastos Silva Raposo
@bastosraposo

Um comentário:

  1. Olá, professor!
    Achei por acaso essa tua postagem e achei muito interessante, pois ela veio justamente no momento em que estou me informando para a definição do meu Trabalho de Curso, para o qual venho refletindo justamente acerca da fragilidade da nossa democracia.
    Estou pretendendo falar do Parlasul, e sobre as eleições diretas para os representantes brasileiros, previstas para ocorrerem em 2014. Contudo, o que me veio à mente foi isso que comentei, isto é, como os brasilieroas vão eleger parlamentares para um órgão que sequer conhecem, sendo que os que elegem internamente já provem de um processo bastante influenciado pela mídia e pelos financiadores privados?

    Muito interessante a tua reflexão!
    Abraço,
    Leonardo Madruga
    Estudante de Direito (UCPel) e Relações Internacionais (UFPel)

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